EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20081125

A Viseu só vinha o rebotalho...



O lançamento do livro de Fernando Giestas - "Cine Cidade – As Salas de Cinema, os Protagonistas e os Filmes do Cine Clube de Viseu (1955-2007)", na FNAC Viseu no último Domingo, foi a oportunidade para rever alguns velhos amigos e também para recordar algumas peripécias curiosas, ao desfolhar o pequeno volume que traça uma resenha parcial da "história" do Cine Clube de Viseu e da sua relação com a cidade. O comunicado da Direcção do CCV enviado à Imprensa, inserto no "Diário Popular", na edição de 22 de Julho de 1974, também publicado no Boletim do CCV desse mês e reproduzido no "Cine Cidade" é um bom exemplo da época que então se vivia:

"Comunicado
1º Considerando que:
a) o cinema, neste momento, é um meio importante na movimentação cultural do país e deve, por isso, ser alargado às classes populares até como meio de politização;
b) a Viseu só vem o rebutalho (Sic) mais indigente das fitas produzidas pelo Imperialismo Multinacional, para condicionar o pior gosto do público e manter, de forma concreta, a colonização cultural imperialista;
c) é importante modificar esta situação;
2º O CCV tem procurado contrariar o reaccionarismo dos monopólios distribuidores-exibidores, programando filmes que possam contribuir para a politização da massa associativa e das classes trabalhadoras onde tem levado cinema de 16mm.
3º A recusa do distribuidor do filme "O Couraçado Potemkine" em alugá-lo ao CCV insere-se na estratégia imperialista da estrutura económica do cinema em Portugal.
4º O filme em questão está disponível, pois já correu as salas culturalistas de Lisboa e Porto onde, oportunisticamente, foi apresentado como fruto proibido durante quase meio ano século, mas porque tem (apenas) o valor de mercadoria,e, com tal, deverá render a mais valia (seu fim último e único), só depois da burguesia (provinciana) o ver e pagar (bem) é que o povo o poderá ver e será a última vaca (magra) a ser chupada.
5º OCCV denuncia esta manobra e alerta todos os cineclubistas da necessidade urgente da socialização dos meios de distribuição cinematográfica, criando desde já um circuito paralelo de importação e distribuição de filmes."

P.S - A palavra “rebotalho” que significa refugo, desperdício ou coisa de pouco valor foi erradamente grafada com “u”..
A força e a influência do filme de Serge M. Eisenstein - “ O Couraçado Potemkine" - URSS, 1925 foi tanta que até o símbolo do CCV passou a ser a imagem do couraçado com os seu canhões alçados.